Um pouco antes desta minha vinda a Paris desde a terra alcatifada de flores que é o Brasil - onde a brisa fala amores, nas lindas tardes de abril - comprei alguns livros em um "sebo eletrônico", um desses leilões pela chamada internet. Um deles, escrito por Joaquim Nabuco, eu trouxe em minha mala de mão, Escriptos e discursos litterários. Edição da Garnier, 1901. A partir da página 35, um artigo sobre Sarah Bernardt datado de 1886.
Nabuco lá diz que na chegada de Sarah ao Brasil, em 1886, nós a aclamaríamos como se ela mesma e a França estivessem a alcançar a nossa terra. "Pela primeira vez em nossa historia, temos a honra de receber em nosso paiz a gloria franceza", ele afirma, como que a antecipar o que diríamos hoje.
No meu Paris, Quartier Saint-Germain-des-près - traduzido e publicado na França sob o título de Le flâneur de Saint-Germain-des-Près - escrevi algumas linhas mencionando uma carta de Olavo Bilac a Sarah Bernhardt, a respeito da morte de Adrienne Lecouvreur. O caro leitor de agora, aqui, encontrará um longo trecho a respeito disso nas páginas 97 e seguintes do Paris, Quartier Saint-Germain- -des-près.
Comprei em um sebo em São Paulo, há muitos anos, o Promenades dans Paris, de Georges Cain, publicado em 1906. Na primeira página após a capa há uma anotação manuscrita de quem foi dono desse exemplar agora meu: "Foi neste livro que encontrei a indicação do lugar onde jazem os despojos mortais de Adrienne Lecouvreur. Seu abandono numa cocheira revoltou-me. Fui procurá-los. Tinham sido removidos para o porão da casa do conde Henry de Jouvencel, cujo mordomo levou-me a ver o ponto da parede onde os haviam enterrado. Escrevi a Sarah como um desconhecido, apelando para que patrocinasse a translação das cinzas para o Père La Chaise".
Sarah há de ter conhecido Bilac quando esteve no Brasil. Eu adoraria me estender neste meu artiguinho quinzenal, dizendo coisas e coisas sobre elas - Adrienne e Sarah - e eles - Nabuco e Bilac.
Não posso, no entanto, descumprir nossas regras de edição, de sorte que agora me basta Adrienne. Indago porém a mim mesmo se a ela basta que me baste.
Releio aquele trecho das anotações de Bilac: "Escrevi a Sarah como um desconhecido, apelando para que patrocinasse a translação das cinzas para o Père La Chaise".
É a mim, agora, que alguém pede socorro? A mim caberia fazer algo no sentido de viabilizar a translação das cinzas de Adrienne para o Père Lachaise? Não sou ninguém, contudo, para me incumbir disso.
Sendo assim, já que ainda estamos em Paris e o tempo (seria o Tempo?) não existe, Tania e eu convocaremos Nabuco, Bilac, Adrienne e Sarah Bernhardt para jantar conosco no Cafe de Flore ou na Lipp!